domingo, 12 de agosto de 2012

Sexta-feira, 10 de Agosto de 2012 - Bolonha -> Veneza


8º dia das férias no asfalto. Quase a terminar, passamos quase o dia todo em Veneza. É uma cidade muito especial… no meu caso, é a terceira vez que cá venho e fico sempre impressionado com a beleza e o charme desta nobre cidade… os canais, as pontes, as praças, as casas antigas e degradadas, as ruas estreitas que serpenteiam a cidade e onde nos podemos perder e ser surpreendidos ao virar de uma esquina…

Chegamos ao final da manhã a Mestre (cidade vizinha de Veneza) onde fizemos check-in e deixamos o carro estacionado, depois foi só tirar o passe de autocarro e de vaporetto e iniciar a nossa aventura por terras Venezianas!

Chegamos à única entrada terrestre de Veneza – a Piazzale Roma logo ao lado do termini de comboio. A partir daqui teríamos de caminhar atravessando o grande canal pelas pontes ou apanhar o Vaporetto… Assim fizemos, ao chegar a Veneza há uma impaciência em saltar para um barco e explorar por via marítima a cidade… a pé não é a mesma coisa, é quase vulgar, afinal qualquer cidade permite passear a pé, mas Veneza não, Veneza convida a ser descoberta pela água, Veneza convida a ser penetrada pelos seus canais grandes ou pequenos, de Vaporetto, de Taxi ou de Gondola,…

Começamos por dar a volta à ilha por fora (lado Sul), passamos ao lado dos grandes barcos cruzeiros (um deles tinha uma parque aquático com escorregas e cascatas de água, outro tinha um recinto de basquete coberto por uma rede para que as bolas não saltassem para a água).


Logo avistamos a Piazza S. Marco, a Torre, o Palácio Ducal e a Basílica… que trio! Estes três  monumentos, só por si, representam o centro de Veneza, mas optamos por seguir caminho, mais tarde voltaríamos ao epicentro turístico da cidade-ilha… seguimos viagem pelo grande canal até ao Rialto… ao avistar a ponte, lembrei-me da Ponte Vecchio de Florença e como ambas se transformaram em locais muito pouco agradáveis… turistas a mais, lojas a mais, vendedores de produtos de contrafação a mais, policias à procura de vendedores de produtos de contrafação a mais, pedintes a mais, ladrões a mais, até calor a mais,… rapidamente fugimos da  confusão e percorremos a margem do grande canal à procura de uma esplanada agradável para almoçar.


O almoço não foi digno de registo neste blog, vulgar, simples, caro,… já devíamos ter aprendido, não vale a pena procurar boa mesa onde abundam tantos turistas, presas preguiçosas ou ingénuas, logo fáceis de capturar,…


Agora sim, com as forças recuperadas, aventuramo-nos pelas ruelas da cidade a pé. Às vezes ficávamos perdidos e entravamos em becos sem saída perante um pequeno canal com uma ou duas Gondolas atracadas… lá dentro um senhor de camisola às riscas e chapéu de palha… Quanto custa um passeio de Gondola? 80€ um passeio de meia-hora, 120€ um passeio de uma hora… as respostas não variavam, estávamos perante um caso claro de cartelização das Gondolas! Ou será mesmo uma mafia que controla esta indústria? Devíamos fazer uma queixa à autoridade da concorrência, ou será a autoridade contra a concorrência? Tenho a certeza que 99% dos pedintes e vendedores ambulantes estariam dispostos a dar aos braços e navegar as Gondolas por Veneza por um décimo do preço!


Após muitas voltas, muitas praças e pracetas, ruas e ruelas, umas com esplanadas outras com poços bem tapados (não fosse um turista mais curioso espreitar, cair e descobrir os segredos mais profundos desta cidade), chegamos novamente à confusão… era a Praça de S. Marco, as pombas partilhavam o pouco espaço ainda disponível com os turistas que acabavam de chegar. Elas, pelo menos, podiam fugir voando por cima dos turistas, nós eramos alvos fáceis para os fotógrafos amadores, pedintes, vendedores de brinquedos, empregados de esplanada com excesso de zelo, etc…


Vamos fugir novamente para o Vaporetto! Seguimos pelo grande canal, sentadinhos à sombra, escondidos dentro do barco, olhando os turistas que entravam e saíam como se estivéssemos num filme, entretidos a comentar as roupas, as caras, os corpos, as expressões, as falas,… um filme dentro de um filme, eramos ao mesmo tempo espetadores e atores, todos neste majestoso cenário de Veneza, que nome dar ao filme? Turista acidental? Não, não me parece muito original e nem viemos cá parar por acidente, somos culpados e pouco ingénuos, talvez sejamos masoquistas,…

Decidimos visitar a ilha de Murano. Apanhamos outro barco e 15 minutos depois estávamos a desembarcar num ambiente mais calmo. Muitas lojas, mas muito menos turistas,… e depois, havia arte, podia não ser arte com direito a museu, mas era bela,… peças de vidro com formas e cores diferentes decoravam as montras, fábricas fechadas outras transformadas em ateliers ou ‘museus do vidro’ ou lojas,…

De repente, já cansados e com muita sede, fomos convidados a entrar num bar por uma música… um som bem alto de acordes de guitarra saíam à rua… e agarraram-me com força! Eram acordes familiares, demasiado familiares,… acordaram-me, conhecia bem aquela música, mas como reconhece-la?! Uma sensação estranha como quando vemos uma cara muito conhecida mas não nos lembramos de onde… será um ex-colega da empresa? Será um colega da faculdade? Será um vizinho antigo? Será apenas alguém com quem me cruzei uma vez no comboio há muitos anos? Será um primo afastado?... Não, esta música não era o resultado de um encontro fortuito, nem uma companhia forçada de qualquer momento vulgar, saída de um carro ou da janela de um vizinho, esta música batia cá dentro,… já estava dentro de mim,… cada acorde da guitarra acordava-me por dentro, sentia arrepios e uma lágrima espreitava o canto dos olhos,… e então surgiu a voz, uma voz melodiosa, grave, fantasticamente casada com a guitarra,… eram os Pink Floyd! Entrei, sentei-me e pedi uma birra gelada… fiquei a beber sofregamente,… a cerveja e a música,… o empregado, nos seus quarentas olhou para mim e perguntou: Gosta dos Pink Floyd? Eu olhei para ele, um sorriso rasgado, e respondi: sim, muito! E  ele comenta: são os melhores do mundo, de sempre,… e seguiu ao ritmo da música,…
Este episódio acabou por marcar minha visita a Veneza, tenho a certeza que será uma âncora, sempre que ouvir Pink Floyd vou-me lembrar de Veneza, sempre que me lembrar de Veneza  vou ouvir Pink Floyd… Mal cheguei ao hotel, descarreguei um ‘best of’ do itunes e ouvi o álbum todo com os meus auriculares, de olhos fechados,… Hey you, Money, The Fletcher Memorial, The Wall, Comfortably Numb, etc… ao fim de trinta anos, cada letra, cada acorde ressonavam na minha cabeça e no meu corpo como se tivesse voltado atrás no tempo! Interessante o efeito que a música pode ter em nós…



Regressamo a Veneza, sabíamos onde ir jantar, a Joana tinha escolhido um ristorante com esplanada aquando da primeira passagem por uma ruela. Fomos lá ter direitinhos, sentamos e pedimos,… fusili de pasta fresca (pareciam pequenos gnocchi esmagados por mãos experientes, al dente!) com melanzana e molho da mesma para mim e para a Joana, um típico tagliateli al ragù para o ZP e um spaghetti com misto de vivaldes (vongole, cozes, etc…) para a Teresa. A acompanhar um soberbo Pinot Grigio do Alto Adige,… huuummm, agora que estou no avião a caminho de casa a escrever estas linhas sei que terei de ser eu a cozinhar estas delicias italianas,… o que farei com um prazer ainda maior…
Já com a noite a cair, passeamos novamente pela Piazza S. Marco, um ambiente mais aliviado, menos turistas, música no ar,...

Voltamos ao hotel a Mestre, terminava o penúltimo dia das férias no asfalto,… o corpo cheio de quilómetros de carro, milhas de barco e milhares de passos , a mente cheia de imagens e sons, o coração cheio de emoções, as saudades da Té e do JP, pediam uma noite de sono reparadora, amanhã seria o último dia das férias,… uma viagem calma de Veneza até Bergamo, ou será que não?...
Beijinhos e abraços com saudades…

2 comentários:

  1. Simplesmente lindo!!! Adorei cada palavra... cada foto, que também me leva novamente a Veneza!

    Obrigada meus lindos!

    beijooooooooooooooooooooo

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  2. Excelente texto !!!
    Quanto ao resto..... nem consigo comentar, tal a força das "sub-modalidades" que vivencio.
    Conseguiria descrever cada um dos cheiros, sabores, imagens e sons que sentiram…. eu tive 4 anos para as ir assimilando …… encarnando, até ficarem para sempre no meu subconsciente.
    :)

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